Na edição anterior destaquei duas boas práticas de desenvolvimento de recursos humanos utilizadas no futebol: o princípio de aprendizagem ao longo da vida e o papel do treinador na formação da sua equipa.
Hoje, destaco mais uma que, apesar da sua importância, não encontra expressão prática nas empresas e nas organizações. É o caso da gestão do capital humano que assume um papel central no futebol. Ao contrário das empresas e organizações, na gestão das equipas de futebol os jogadores são o activo mais importante de um clube. A sua gestão passa pelo conhecimento das capacidades técnicas e tácticas de cada jogador (competências individuais e colectivas) e das suas necessidades de desenvolvimento, construindo-se a partir desse conhecimento um rigoroso plano de trabalho individual e colectivo.
Na quase totalidade das empresas e organizações, é frequente ouvir-se que as pessoas são o activo mais importante, mas os modelos de gestão das pessoas continuam a ser meramente de âmbito administrativo e funcional. Os sistemas de gestão adoptados servem para tratar da assiduidade dos trabalhadores, do pagamento de salários e, num escasso número de casos, também da formação e da avaliação de desempenho.
São raras as empresas e organizações que fazem a gestão do seu capital humano, isto é, que identificam e validam as competências formais, não formais e informais de cada trabalhador, e asseguram o desenvolvimento das suas competências tendo em consideração os objectivos anuais da empresa.
Por exemplo, quantos dirigentes de empresas utilizam as práticas do futebol no recrutamento dos melhores talentos, no treino individual e colectivo dos jogadores, na gestão do plantel de modo a fidelizar os melhores e libertar os “passivos”, no acompanhamento e avaliação permanente do desempenho numa óptica de gestão do investimento imaterial.
Somente nas grandes empresas multinacionais se observam práticas semelhantes às do futebol. O recurso a “caça-cabeças” é uma prática de recrutamento similar à dos “olheiros” e “empresários de futebol” para recrutar os melhores jogadores.
No futebol, os jogadores são seleccionadas de acordo não só com as suas competências individuais mas também com as competências colectivas, sendo a equipa escolhida em função de variáveis como o adversário, o esquema táctico e as condições de realização do jogo.
Do mesmo modo, são raras as empresas com organizações estruturadas a partir das competências dos seus trabalhadores para atingir os objectivos definidos. A prática continua a ser a organização por funções sem qualquer preocupação de gestão das competências dos recursos humanos. A formação dos trabalhadores visa unicamente desenvolver competências individuais esquecendo a importância do “treino colectivo”.
Que sucesso teria uma equipe de futebol gerida sem preocupações colectivas. Por exemplo os “defesas”, os “médios” e os “atacantes” geridos com as técnicas usuais nas empresas que favorecem o “espírito de quintinha” em que os trabalhadores não passam a bola uns aos outros.
E que sucesso teria uma equipe que no final da época, após a avaliação de resultados que ficaram aquém dos objectivos, não tomasse as medidas que tão bem conhecemos: a famosa limpeza do balneário e a mudança de treinador.
Estes aspectos, muitas vezes pouco pacíficos, inserem-se na gestão do capital humano. A limpeza de balneário tem a ver com os jogadores que deixam de ser um activo valioso para a nova época, e a mudança de treinador ocorre geralmente quando este não consegue fazer uma gestão eficaz das capacidades individuais e colectivas do plantel.
De tudo o que foi dito, facilmente se conclui que o futebol é dos sectores de actividade onde o investimento imaterial é a chave do sucesso. O passe dos jogadores é o principal activo e não as instalações e as máquinas. Para ganhar o campeonato é necessário investir forte nos jogadores e nos treinadores.
Será que as empresas e organizações não seriam mais produtivas e competitivas se “copiassem” as boas práticas do futebol?
Etiquetas: coaching, competências colectivas, futebol e gestão, gestão capital humano, mentoring, organização aprendente, papel dirigente
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