Quando um Seminário é um Espectáculo…

Recentemente participei num Seminário Internacional sobre Inovação na Educação que teve lugar em Lisboa. Logo após as primeiras intervenções começou a ser evidente que, salvo raras excepções, as apresentações pouco teriam de inovadoras, e algumas não tiveram mesmo qualquer sinal de inovação. Assim, aproveitei o tempo para observar, reflectir e aprender com a experiência.

Na verdade, por razões profissionais, há muito tempo que o assunto da organização de seminários, conferências e eventos similares me interessa, pelo não era a primeira vez que reflectia sobre o assunto em busca de soluções mais inovadoras e, principalmente, mais eficazes em termos de comunicação.

Mais uma vez lembrei-me de uma conferência-espectáculo em que participei há mais de 10 anos em Paris, promovida pelo CEFAC. De facto, se um seminário é na sua essência uma acção de comunicação, esta deve ser eficaz como aconteceu na referida conferência. As técnicas de representação foram utilizadas com mestria para tornar o evento num espectáculo. Sem pretender apresentar qualquer solução milagrosa, porque cada caso é um caso, interessa analisar os aspectos centrais deste tipo de eventos.

O primeiro aspecto a analisar tem a ver com o tema e os objectivos. O tema é atractivo? O público-alvo está definido? Os objectivos são suficientemente claros. Apesar de nestes aspectos já ter havido uma evolução bastante positiva ainda é frequente encontrar casos de seminários em que estas questões não foram devidamente ponderadas, com consequências negativas nos resultados obtidos.

O segundo aspecto é a escolha dos oradores. Fazendo uma analogia, no teatro quem escolhe a peça escolhe, também, os actores mais adequados para interpretar os vários personagens. Esta escolha é fundamental para o sucesso da peça, pois uma má escolha pode comprometer o desempenho de todo o elenco. Pelo contrário, a escolha dos oradores para um seminário não é feita com o mesmo cuidado. Muitas vezes convidam-se oradores que nunca ouvimos fazer qualquer intervenção o que é quase impensável em termos de teatro em que a audição prévia é a regra, mesmo para actores com créditos firmados. Não é pois de estranhar que raramente se assista a um seminário com um elenco de oradores equilibrado, cujas intervenções estão em sintonia com os objectivos.

Pensando ainda em teatro, há outro aspecto tão importante quanto esquecido na realização de seminários. Trata-se da gestão do palco e dos actores. Em geral, uma peça divide-se em actos com diferentes cenários. O palco é exclusivamente reservado aos actores que estão a representar. Num seminário, pelo contrário, o cenário é estático e o palco é partilhado pelo orador, que está a falar, com os outros oradores e moderadores. Para acrescentar mais ruído à comunicação do orador, ainda se colocam no palco umas mesas, uns arranjos de flores, as bandeiras dos organizadores, uns cartazes publicitários e o painel do evento. Por ser uma prática tão banal nem nos damos conta de que estamos a criar barreiras ao bom desempenho do orador. Será que a presença no palco dos oradores que não estão a intervir, muitas vezes falando ou murmurando entre eles, faz algum sentido em termos de eficiência da comunicação? Faz lembrar o tempo em que as montras das lojas de vestuário eram decoradas com muitas flores e objectos estranhos, quando o que se pretendia vender era o vestuário. Num seminário, o que se pretende é tão simplesmente “comunicar”.

O quarto aspecto diz respeito às intervenções dos oradores. No teatro, o sucesso de uma peça depende da qualidade das interpretações dos actores, e uma boa interpretação é aquela em que o actor “constrói” a personagem não se limitando a seguir o guião. Por outras palavras, acrescenta valor ao espectáculo e conquista a plateia com a sua representação. Pode parecer uma comparação exagerada mas quem já assistiu a intervenções em que o orador não se limita a ler o texto ou os powerpoint e “constrói uma interpretação única” facilmente percebe qual é o desafio.

Basta observar o que acontece nos seminários de grandes empresas multinacionais para se constatar a preocupação na realização de um espectáculo, com recurso a cenários adequados, uma gestão cuidada do palco e o recurso a excelentes comunicadores, a actores e a apresentadores de televisão.

Por último, as sessões de abertura e de encerramento são um aspecto a analisar com atenção. Em abono da verdade, estas sessões podem ser de grande utilidade mas não é raro acontecer que não acrescentem qualquer valor. Por vezes, são mesmo utilizadas como um palco para desfile de figuras ilustres ou para abordar questões que nada têm a ver com o tema do seminário. Outro erro frequente é fazer da sessão de abertura o momento alto do seminário, o que atrai muitos participantes que saem após a sessão deixando os oradores a falar para meia dúzia de pessoas.

Sem dúvida que há outros aspectos importantes para o sucesso de um seminário, mas os acima referidos são suficientes para mostrar a necessidade de abandonar práticas com algumas dezenas de anos e encontrar novos modelos-espectáculo que conquistem a plateia. No final, os participantes devem ficar com vontade de voltar. Por curiosidade, quantas vezes sentiu o desejo de voltar?

“Se o pudeste sonhar, podes fazê-lo “, Walt Disney

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