Quero uma Escola de Empreendedores

Esta é uma história sobre a aprendizagem de uma criança. Uma história em que talvez a ficção não se distinga da realidade. Nesta história, uma mãe e um pai abrem a caixa de memórias e recordam a infância do filho até à entrada na escola.

Ainda no berço, ficavam encantados a observar a curiosidade do filho que queria descobrir tudo o que era novo e ficava ao alcance das mãos. O assombro do bebé perante os brinquedos e as coisas novas estimulava o desejo de tocar, de agarrar, de descobrir. Lembram-se, como se fosse hoje, do permanente deslumbramento e curiosidade do filho para aprender a falar e a andar.

Aprender a falar é, provavelmente, a competência mais emblemática, dada a sua complexidade e elevado grau de dificuldade. Daí que recordem esse desafio, em especial a primeira palavra que o filho pronunciou. Recordam-se, também, da forma como expressavam o seu entusiasmo com essas pequenas vitórias do filho. Depois da primeira palavra, estimulado a comunicar através de sons, o filho aprendera a falar, com toda a naturalidade e aparente facilidade. Recordam-se, ainda, dos primeiros passos do filho. Mais uma vez, o deslumbramento e a curiosidade para brincar com os objectos em cima da mesinha da sala foram o motor para o filho aprender a andar.

Mais tarde, recordam-se das perguntas que o filho fazia a toda a hora. Lembram-se de contar a familiares e amigos algumas das perguntas, como a querer dizer “vejam como o nosso filho é muito inteligente”. Este, estimulado pelos elogios dos pais, fazia mil e uma perguntas. Na verdade, para os pais, o filho era uma verdadeira máquina de aprendizagem, revelando uma extrema facilidade para aprender.

As recordações gratificantes continuam até que, de repente, como que por encanto, tudo mudara. Ainda hoje não compreendem as razões da mudança, mas depois da entrada na escola, progressivamente, o filho deixara de fazer perguntas. Mais, recordam-se que o filho parecia ter “bloqueado” a curiosidade e perdera a alegria. Recusava-se, mesmo, a ir à escola. Recordam como eram frequentes as noites mal dormidas, as dores de barriga antes de ir para a escola e a espera ansiosa pelo fim-de-semana e pelas férias como se fosse uma tábua de salvação.

Mas, o que explica esta mudança? Observemos em primeiro lugar o papel dos pais. Desde o nascimento, a preocupação dos pais sempre tinha sido oferecer brinquedos para o filho brincar e ter alegria. A alegria do filho era a alegria dos pais. No entanto, com a entrada na escola, a alegria dos pais passara a manifestar-se quando o filho dava as respostas certas que a escola ensinava. Perderam a paciência para ouvir as suas perguntas. O importante passara a ser elogiar o filho pelas respostas certas da escola e não pelas suas descobertas como antes acontecia. A alegria dos pais deixara de ser a alegria do filho.

Mas, ao estimular as respostas certas, de um dia para o outro, estes pais não perceberam que contribuíram para o filho deixar de pensar. Mataram a curiosidade que o levava a procurar as respostas, negando o prazer da descoberta, a tentativa e o erro. Então, o filho perdera a curiosidade e a vontade de aprender, porque a escola não aceitava que ele descobrisse as respostas. De repente, ser curioso deixara de ser uma virtude, e passara a ser um terrível defeito passível de castigo. O anterior prazer de aprender, vencendo desafios estimulantes, tinha desaparecido. “Quem me dera estar lá dentro (escola) como quando estou cá fora” diz uma música bem conhecida, que atesta bem o sentimento do filho e de muitos jovens.

Esta história é, também, uma pergunta para os pais. Que escola querem para os seus filhos? Querem uma escola que ensine as perguntas ou uma escola que ensine as respostas? A primeira incentiva a curiosidade e fomenta o espírito empreendedor. A segunda amordaça a curiosidade e paralisa o espírito empreendedor.

Como pai, confesso que tenho um sonho. Quero uma escola de empreendedores.

PS: Este texto não é uma resposta certa. É, simplesmente, uma pergunta para empreender.

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