Esteve recentemente em Portugal, para proferir mais uma das suas famosas conferências, a oradora brasileira Leila Navarro também conhecida por “A Viagra Empresarial”.
Esta surpreendente designação tem a ver com o facto de Leila Navarro exercer um efeito muito positivo nas pessoas que ouvem as suas intervenções, as quais manifestam um grande prazer e um optimismo contagiante.
Ao ler a reportagem sobre o evento, comecei a pensar no efeito milagroso das palavras de Leila Navarro, que levaram alguém a compará-la a um medicamento, também ele de efeitos milagrosos. E ocorreu-me a seguinte questão: será que a motivação se pode resolver com um viagra empresarial?
Provavelmente não. Não ponho em questão que a oradora seja brilhante e que deve ser um enorme prazer participar nas suas empolgantes conferências. O que questiono é: será que participar num espectáculo mobilizador resolve o problema da falta de motivação? Será que não estamos a tomar apenas um placebo, que tem um efeito temporal reduzido tal como o medicamento milagroso?
Na prática, pelo que se observa pela crescente promoção deste tipo de eventos, parece que as empresas acreditam que a motivação se resolve com iniciativas deste género. Só assim se explicam os elevados montantes pagos aos oradores. O mesmo parece acontecer com o investimento feito nas inúmeras acções de motivação realizados anualmente pelas empresas portuguesas.
No entanto, apesar destes avultados investimentos, uma das queixas recorrentes dos trabalhadores portugueses é a falta de motivação. Mais, a responsabilidade pela falta de motivação é apontada quase sempre a terceiros, em especial às chefias e dirigentes. Neste contexto, tudo indica que o investimento não terá o retorno desejado. Mas, apesar disso, as empresas continuam a investir sem questionar os fracos resultados obtidos.
Porque persistem nesta abordagem? Será porque acreditam que a motivação é uma porta que se abre por fora? Parece que sim. De facto, se observarmos a oferta de conferências e cursos de motivação que proliferam no mercado, constatamos que esta crença está bem presente. Mas, na verdade, a motivação é, acima de tudo, uma porta que se abre por dentro. Quer isto dizer que a auto-motivação é o requisito fundamental. Em abono da verdade, pode também dizer-se que a motivação é uma porta com duas chaves, ou seja, que se abre por fora desde que também se abra por dentro.
Por outras palavras, a acção externa de motivação só terá efeito se abrirmos a porta por dentro. Caso contrário, qualquer conferência ou acção não abrirá a porta da motivação. Será como abrir uma porta com mola forte, que passado pouco tempo volta a fechar-se. Muitos, com certeza, conhecem bem o fenómeno: passado o optimismo inicial, gerado durante a acção de motivação, tudo fica na mesma.
Por mim, não creio que a motivação se resolva com um qualquer viagra empresarial. A motivação é, em primeiro lugar, uma responsabilidade das pessoas. É, também, uma responsabilidade das chefias e dirigentes no sentido de eliminarem as fontes de desmotivação e proporcionarem as condições favoráveis à auto-motivação. Mas, se a porta não for aberta dentro de cada um, o recurso a medicamentos externos milagrosos produzirá apenas um prazer efémero, que desaparecerá ao fim de poucas horas.
“Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar-se a si próprio.” Leon Tolstói
Etiquetas: auto-motivação, leila navarro, motivação
19 Junho, 2007 às 12:09 pm |
Concordo em pleno!
A comparação até acaba por cair na ratoeira da sua própria metáfora, uma vez que os resultados do Viagra não são conhecidos pela sua duração mas pelo seu efeito a curto prazo.
O que nos leva a pensar que o modo como se olha para a motivação – tal como operação de cosmética e não como mudança estrutural – é atraiçoado pela leviandade desse mesmo olhar.
Nelson Rocha