Há mais Europa para além da Estratégia de Lisboa

Recentemente tive oportunidade de participar no Fórum da Arrábida onde assisti a uma apresentação sobre a evolução da Estratégia de Lisboa feita pelo Coordenador Nacional da Estratégia e do Plano Tecnológico.

Nessa apresentação, o Coordenador Nacional fez uma resenha histórica da Estratégia de Lisboa, a qual surgiu num contexto de crescimento europeu com foco no conhecimento. Foi a Estratégia Lisboa 1.0, nascida em 2000. Certamente muitos se lembram do objectivo de, até 2010, tornar a União Europeia na economia do conhecimento mais competitiva do mundo.

No entanto, a estratégia nunca se conseguiu afirmar como um desígnio europeu pelo que estava praticamente morta quando Durão Barroso se tornou Presidente da Comissão Europeia. Devido ao seu empenho, a Estratégia de Lisboa foi relançada em 2005 tendo então como foco o crescimento e o emprego, ou seja os dois grandes desafios que preocupavam os países e os cidadãos europeus. Foi a Estratégia Lisboa 2.0.

Mas, foi sol de pouca dura. Passados cerca de 2 anos surge a Estratégia Lisboa 2.1, desta vez com foco na inovação e na criatividade. Curiosa é a razão invocada para as mudanças: a Europa já estava a perder por 2-0 na competição das tecnologias.

Mas, ainda mais curioso é o facto de se especificar a estratégia como se fossem releases da mesma estratégia, sem perceber que se trata de 3 Estratégias de Lisboa. No início o foco foi o conhecimento, depois o crescimento e o emprego e por fim a inovação e a criatividade. Contudo, o resultado foi o mesmo: a Estratégia falhou. O foco nunca foi, nem agora é, mobilizador. Basta dizer que na Conferência Europeia e-Learning Lisboa 07, Diogo Vasconcelos perguntou ao público presente se já tinham lido a Estratégia de Lisboa e somente cerca de uma centena de braços se levantaram numa sala com mais de mil pessoas. E, provavelmente, estas só conhecem a Estratégia inicial pois todas as referências continuam a falar da economia do conhecimento.

Neste contexto, antes de definir novas “estratégias de laboratório” é preciso explicar o que falhou. Mais, é preciso explicar a Estratégia e especificar focos mobilizadores. Dizer que o foco é a inovação e a criatividade pode ser muito bonito mas, na prática, diz muito pouco e não mobiliza os europeus. A ideia que passa é que há uma elite europeia a delinear estratégias para resolver os problemas dos cidadãos europeus e que estes não se revêem nas inovadoras Agendas.

Quantos europeus acreditaram e se mobilizaram para tornar a Estratégia de Lisboa um sucesso? Quantos europeus acreditam que, depois de ouvir falar do milagre do conhecimento, do oásis de crescimento e emprego, afinal o futuro passa pela inovação e criatividade?

Uma nota final para referir que a Estratégia Lisboa 2.1 inclui uma forte aposta nas energias renováveis, para fazer face ao desafio das alterações climáticas. Por outras palavras, à “economia do conhecimento” parece que se segue a “economia de baixa emissão de carbono”.

“Uma comissão consiste na reunião de pessoas importantes que, sozinhas, não podem fazer nada, mas que juntas decidem que nada pode ser feito.”
Fred Allen

Publicado na edição online do Diário de Notícias da Madeira, em 5 de Novembro de 2007

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