Quem se lembra como era divertido procurar o Wally no meio de uma multidão de pessoas e objectos desenhados por Martin Handford? Lembram-se do simpático personagem da blusa e gorro riscados que seduziu miúdos e graúdos e se tornou uma febre mundial?
Pode parecer estranho mas, ao ler que mais de 90% da formação em Portugal segue o modelo escolar, lembrei-me do Wally. O referido modelo é bem conhecido de todos e tem um ADN de fácil clonagem. Os formadores transmitem um conhecimento incontestável. Os formandos, sentados na sala, escutam e não contestam. Os formadores distribuem fotocópias. Os formandos estudam e memorizam. Por vezes, os formandos efectuam um teste para obter um certificado.
Perante este quadro da formação deixa de parecer estranha a recordação dos desenhos do Wally. Há uma multidão de formadores e de formandos e milhares de centros de formação, de escolas e de empresas. Mas, onde está o aprendizagem?
De facto, num modelo de formação em que os formadores expõem com a ajuda de powerpoint, e os formandos ouvem e respondem a perguntas de controlo, só por mero acaso podemos encontrar a aprendizagem. Mesmo quando os formandos têm aproveitamento em testes não há qualquer garantia de ter havido aprendizagem. Os testes apenas medem a capacidade de memorização dos formandos e não a sua compreensão da matéria. O mesmo acontece com a formação com recurso a modernas plataformas de e-learning onde também não se vislumbra a aprendizagem. Não raras vezes a formação não passa de e-reading.
Basta consultar os estudos publicados para constatar que Portugal continua a apresentar resultados claramente decepcionantes nos rankings europeus e internacionais da formação, apesar de ter “gasto” mais de 3 milhões de euros diários ao longo dos últimos 6 anos.
Para melhorar os resultados é urgente mudar o paradigma da formação. Por outras palavras, é necessário pensar e agir em termos de aprendizagem. Os formandos têm de assumir o principal papel no processo de aprendizagem, o que implica um papel activo de compreensão da matéria que se traduz na capacidade de reformular, de questionar e de validar o conhecimento. Só então fará sentido falar de aprendizagem.
Numa altura em que Portugal vai iniciar um novo ciclo de “investimento” na formação, no âmbito do Quadro Estratégico de Referência Nacional (QREN), é altura de adoptar uma grelha de análise de candidaturas com uma simples pergunta: onde está a aprendizagem?
“Não se pode ensinar coisa alguma a alguém; pode-se apenas auxiliar a aprendizagem pelo próprio”, Galileu
Publicado na edição online do Diário de Notícias da Madeira em 12 de Março de 2008.
Etiquetas: criterios selecção, poph, qren, wally
18 Março, 2008 às 10:38 pm |
Desculpe mas… Devo depreender que, na sua opinião, com a educação escolar os alunos não aprendem???!!!
As generalizações podem ser perigosas 🙂
19 Março, 2008 às 1:08 pm |
O desafio, na formação, é idêntico ao que se coloca no ensino e levou à Declaração de Bolonha para o ensino superior, com a finalidade de mudar o paradigma de ensino para aprendizagem.