A Delphi da Guarda anunciou que vai despedir cerca de 700 trabalhadores até ao final do ano. Na mesma linha, a Yasaki Saltano de Vila Nova de Gaia anunciou que vai despedir mais 400 colaboradores, depois de já ter despedido cerca de 300 trabalhadores em finais de 2006 na sua fábrica em Ovar.
Perante esta delicada situação, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Vila Nova de Gaia anuncia que vai fazer a pré-inscrição dos trabalhadores no Centro de Emprego, realizar sessões de aconselhamento profissional e promover acções de formação tendo como objectivo “facilitar a transição de carreira dos trabalhadores”.
Mais uma vez, apesar destas situações já serem previsíveis devido à crescente deslocalização de empresas, os serviços de emprego parecem surpreendidos pelos despedimentos e reagem com as mesmas “medidas correctivas” de sempre: inscrição no desemprego e formação para “ocupar” os desempregados.
Quando tanto se fala de Plano Tecnológico e da importância do capital humano para o sucesso da Estratégia de Lisboa é difícil compreender esta governação à vista do emprego e das competências. Mais incompreensível é quando a “Europa das Regiões” defende a necessidade de reforçar a competitividade das regiões e se multiplicam as políticas regionais preventivas lançadas pelos países membros.
Então, porque razão não se faz em Portugal uma gestão preventiva destas situações?
Na verdade, no actual cenário de aceleradas mutações económicas e tecnológicas é fundamental que os serviços de emprego estejam próximo das empresas e que as acompanhem na adaptação às novas realidades. Esta necessidade é reforçada pelo surgimento de novas formas de trabalho, associadas ao emprego precário, as quais exigem que se implemente uma gestão previsional do emprego.
De facto, se o capital humano é o activo mais importante então a competitividade das regiões depende da sua capacidade de antecipar, analisar e acompanhar as mutações económicas, ou seja, de efectuar a gestão previsional das idades, das competências e dos empregos. Das idades, porque é essencial antecipar os fluxos de entrada e saída do mercado de emprego. Das competências, porque é essencial antecipar a mobilidade destas no mercado de emprego. Dos empregos, porque é essencial antecipar a criação e extinção de emprego. Em síntese, só com medidas preventivas será possível assegurar a empregabilidade dos trabalhadores, principalmente daqueles que estão em risco de desemprego como é o caso na Yasaki Saltano e na Delphi.
No futuro, para não serem surpreendidos, os serviços de emprego têm de saber agir em novos espaços de intervenção territorial com o objectivo estratégico de assegurar o desenvolvimento sustentado das regiões onde estão inseridos. Nesse sentido, é fundamental que trabalhem em parceria com outros actores regionais na caracterização da população, das empresas e da região, assim como na identificação dos desafios e dos riscos, de modo a definir politicas de emprego e de formação adequadas às necessidades da sua região.
Por outras palavras, na Europa do Conhecimento, a governação à vista tem de dar lugar à gestão previsional dos empregos e das competências ao nível dos estados membros e, em especial, ao nível das Regiões. Senão, só nos resta proclamar: viva o desemprego.
Publicado na edição online do Diário de Notícias da Madeira em 28 de Abril de 2008.
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