Um estudo do Departamento de Estado do Trabalho dos Estados Unidos prevê que os jovens estudantes americanos terão, em média, 10 a 14 empregos até aos 38 anos de idade. A confirmar-se esta previsão deixa de haver dúvidas. O “emprego para a vida” está em extinção.
O que falta saber é se o emprego também está em vias de extinção. Para alguns, a questão do desemprego é conjuntural e vai melhorar com o fim da actual crise. Para estes, a já anunciada retoma económica vai, finalmente, concretizar a criação de milhares de empregos. Para outros, os problemas de desemprego são estruturais e tenderão a agudizar-se com a crescente globalização do mercado de trabalho. Basta lembrar duas previsões da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para termos uma ideia da dimensão do problema. A primeira prevê que, a nível mundial, o nº de desempregados crescerá mais 50 milhões só em 2009. A segunda prevê que o nº de trabalhadores com vínculos laborais precários atinja os 53% em 2009.
A confirmar este pessimismo, a Forrester Research divulgou um estudo onde prevê que, até 2015, os Estados Unidos vão perder 3,3 milhões de empregos de colarinho branco e que 136 mil milhões de dólares de remunerações serão transferidos dos Estados Unidos para a Índia, a China e a Rússia. Para a Europa a previsão é menos pessimista mas, mesmo assim, deveras preocupante. Até 2015, a Europa perderá 1,2 milhões de empregos devido ao “outsourcing” para a Ásia. Neste cenário, será que ainda há espaço para previsões optimistas de criação de emprego? Ou, pelo contrário, estamos condenados a uma vida cheia de empregos alternados com períodos mais ou menos longos de desemprego?
Quem não se lembra das promessas de milhares de empregos? Será que devemos prosseguir o caminho da ilusão ou tomar medidas inovadoras e adequadas à crescente mobilidade dos trabalhadores devido à destruição de milhares de empregos e à deslocalização de outros milhares para países emergentes, em especial para a Ásia.
Alguns países já perceberam que a via da ilusão está condenada. Assim, a partir de 2007 lançaram profundas reformas dos seus sistemas de emprego com o objectivo de adequar a sua oferta de serviços aos desafios de uma era de incerteza onde a mobilidade entre empregos é a norma. Para dar resposta a esta realidade esses países decidiram alargar o campo de intervenção dos serviços de emprego para além da gestão da procura e da oferta de emprego. O desafio que assumiram assenta numa visão holística da carreira e visa prestar serviços continuados de apoio aos cidadãos condenados a ter uma vida cheia de empregos num mercado fortemente marcado pela precariedade.
Esta abordagem faz todo o sentido pois os cidadãos que antes recorriam aos serviços de emprego apenas quando iam para o desemprego, o que acontecia raramente, passaram a necessitar de serviços de apoio sempre que ocorre uma mudança de emprego, o que pode acontecer mais de uma dezena de vezes ao longo da carreira. Perante este acréscimo exponencial verificado na procura de serviços de apoio especializados pelos cidadãos condenados a uma vida cheia de empregos não restava outra alternativa a esses países. Para aliviar a forte pressão sobre os sistemas de emprego e evitar o colapso tiveram de efectuar reformas urgentes no sentido de implementar soluções inovadoras à medida de cada cidadão, ou seja, de cada carreira.
É neste contexto que surgiram as reformas cujo denominador comum é a “carreira”, a qual inclui o percurso dos empregos ao longo da vida activa, assim como o percurso de educação e formação. A mudança da óptica “emprego” para a óptica “carreira” é a chave. Na verdade, fazer a gestão de carreira é bem mais complexo e exige uma atenção permanente de forma a antecipar os eventuais riscos desemprego. De uma política correctiva do desemprego está a evoluir-se para uma política preventiva do desemprego. O objectivo é agir preventivamente no sentido de assegurar a mobilidade para outro emprego, ou para um percurso alternativo de educação-formação no caso da transição para outras funções ou profissão.
Com esta nova filosofia os Estados Unidos lançaram a rede “America´s Career Resource Network” para ajudar estudantes e adultos a tomar melhores decisões sobre educação, formação e carreira. Nesta rede, os estudantes beneficiam de apoio na identificação das suas habilidades e interesses e na definição de um percurso de educação e formação adequado às suas capacidades e às necessidades do mercado de trabalho. Nas escolas e nas universidades multiplicam-se as iniciativas com a finalidade de dotar os jovens de competências para gerirem as suas carreiras. Deste modo, a abordagem de gestão de carreira integra os desafios da educação e os desafios da economia.
Na mesma linha foi lançada no Reino Unido a rede “Careers Advice” com uma panóplia de serviços que combinam emprego, formação, trabalho e economia. Entre os serviços online destaque para a elaboração do curriculum vitae, a realização de testes de interesses e de capacidades e a construção do portefólio de competências. A par desta iniciativa o Reino Unido lançou também “Train to Gain” para apoiar os empregadores na formação dos seus trabalhadores. Os serviços de consultoria em formação são prestados por uma rede nacional de consultores que apoiam individualmente as empresas na identificação das competências-chave para assegurar o desenvolvimento do seu plano de negócios. A rede de consultores também apoia individualmente os trabalhadores na realização do seu balanço de competências e na elaboração do seu plano pessoal de desenvolvimento de competências numa perspectiva de carreira e não apenas do actual emprego.
Em síntese, parece claro que uma vida cheia de empregos traduz uma mudança de paradigma com forte impacto não só nos sistemas de emprego, mas também nos sistemas de educação e formação e, obviamente, no sistema económico. Contudo, o principal impacto da morte do “emprego para a vida” acontece ao nível das pessoas. Como diz Alvin Tofler “ou você tem uma estratégia própria, ou então é parte da estratégia de alguém”. Traduzindo a mensagem, temos de gerir as nossas carreiras. Mas, sermos capazes de gerir as nossas carreiras implica outra mudança radical. Gerir a carreira implica saber gerir a aprendizagem ao longo da vida. O consagrado “direito individual à formação” já não responde às exigências de aprendizagem inerentes a carreiras com muitos e diversificados empregos. Hoje, aqueles que estão condenados a uma vida cheia de empregos estão também condenados ao “dever individual de aprendizagem ao longo da vida”.
“Uma larga fatia dos empregos perdidos são empregos destruídos. Já lá não estão. É preciso encontrar outras fontes de geração de emprego”, Ernâni Lopes
Etiquetas: balanço competências, fim dos empregos, plano pessoal desenvolvimento, precariedade emprego
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