A saga do PEC continua e já vai na 4ª edição. A receita para combater a crise é sempre a mesma: crescimento, crescimento, crescimento e crescimento. Da estabilidade já nem se fala tal a devastação provocada pelo tsunami financeiro. O que importa é falar de crescimento económico. Economistas, empresários, analistas, políticos, em suma, todos, parecem acreditar que só há uma solução para a crise, o crescimento económico. A sociedade está dependente deste mito. Ninguém se atreve a questionar. A unanimidade é total. Mas, como concluiu Solomon Asch nas suas investigações sobre o comportamento humano, “a unanimidade é burra”. Quando todos seguem “a verdade” dominante é porque ninguém pensa.
Felizmente, há sempre alguém que diz não. Há sempre quem arrisca pensar de modo diferente e decide explorar novas ideias e procurar caminhos alternativos. Foi o que fez Tim Jackson no seu livro “Prosperidade sem Crescimento: economia para um planeta finito”, publicado em 2009, onde defende que o actual modelo económico e financeiro é insustentável. A crise que enfrentamos não se resolve com planos de crescimento, “resolve-se saindo dela ou seja do modelo de vida que a produz e que lhe é inerente”.
Segundo Jackson, a visão do mundo assente no paradigma do crescimento contínuo é insustentável pois coloca em risco os frágeis ecossistemas que são essenciais para a nossa sobrevivência a longo prazo. Para termos uma ideia da urgência em conseguir uma economia de baixa emissão de carbono basta dizer que, em 2050, num mundo com 9 mil milhões de pessoas, ou seja mais 50% do que em 2000, a intensidade das emissões de carbono deverá ser 130 vezes menor.
Para o autor e Presidente da Comissão para o Desenvolvimento Sustentado do Reino Unido a saída da crise não passa por acabar com o crescimento mas sim por redefinir a noção de prosperidade. Na mesma linha, o Nobel da Economia Amartya Sen defende que “é necessário redefinir a riqueza e a prosperidade com base nos parâmetros da capacidade de florescimento. O florescimento define-se como ter o suficiente para comer, ser parte de uma comunidade, ter um emprego que valha a pena, uma moradia decente, acesso a educação e serviços médicos”. Por outras palavras, prosperidade é ter um papel na sociedade, em vez de ter muito para viver. É a busca do ter pelo ter da actual sociedade que gera a espiral consumista que sustenta o mito do crescimento.
Muitos economistas, como Jackson, afirmam que estamos perante o Dilema do Crescimento. Não podemos viver sem ele, mas também não podemos viver com ele. Por um lado, o crescimento está a esgotar os recursos e a gerar emissões de carbono tão altas que comprometem o futuro. Por outro lado, não assegura a prosperidade das pessoas. Apesar do crescimento mundial verificado na última década, à taxa de 3-4%, cerca 40% da população, ou seja 2,7 mil milhões de pessoas vivem com menos de 2 dólares por dia.
Qual o caminho a seguir? Não sei. Mas sei que não acredito nos PEC. Acredito, apesar de tudo, que vamos encontrar a saída da crise. Entretanto, resta-me o sonho da prosperidade compartilhada e duradoura.
Publicado no Diário de Notícias da Madeira em 17 de Abril de 2011.
Etiquetas: amartya sen, dilema crescimento, prosperidade sem crescimento, tim jackson, unanimidade burra
Deixe uma Resposta