Portugal vive um período de crise financeira, económica, social e política sem precedentes. Neste contexto, os portugueses vão ser chamados a votar para escolher um novo governo. Tudo indica que a campanha eleitoral será bastante disputada, com promessas sedutoras para conquistar o voto dos portugueses. Para estes, a questão central é: em quem vou votar? A resposta será dada por cada português nas urnas. Aqui, irei apenas abordar o modo como se toma a decisão de votar.
Para tal vou socorrer-me de uma experiência descrita por Jonah Lehrer no livro “Como Decidimos”. Nessa experiência, os neurocientistas Knutson e Loewenstein analisaram a actividade cerebral de dezenas de estudantes durante uma série de decisões de compra. No final, os cientistas concluíram que sempre que o negativismo da ínsula superava as sensações positivas do NAcc (nucleus accubens), o estudante optava por não comprar. Pelo contrário, sempre que o NAcc estava mais activo do que a ínsula, ou se o córtex pré-frontal estava convencido que se tratava de uma pechincha, o estudante não resistia à compra. Conhecendo isto, o que fazem as lojas modernas? Recorrem a técnicas cujo objectivo é a manipulação psicológica dos consumidores. A estratégia das lojas passa por agir no sentido de incentivar o NAcc e, ao mesmo tempo, inibir a ínsula.
Mas, o que é que isto tem a ver com a decisão de voto? Segundo os neurocientistas, tem muito. Nas campanhas eleitorais, há muito que os especialistas em marketing político utilizam a mesma estratégia das lojas. Assim, as promessas de milhares de empregos têm o condão de activar o NAcc dos eleitores e as garantias de que não haverá aumento de impostos têm o efeito de inibir a ínsula.
Dito isto, será que quem seguir o apelo do Presidente da República e fizer uma “Política de Verdade”, dizendo que o desemprego vai continuar a crescer e que vamos viver uma década de grandes dificuldades, consegue ganhar as eleições? Provavelmente, não. O que decide as eleições é a emoção não é a razão.
Publicado no Diário de Notícias da Madeira em 17 de Maio de 2011
Etiquetas: economia comportamental, jonah lehrer
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