Os portugueses e a Síndrome de Estocolmo

Em 1973, Nils Bejerot enriqueceu o léxico clínico com a Síndrome de Estocolmo. Este psiquiatra, que também era um prestigiado criminologista, colaborou com a polícia durante os seis dias do assalto ao banco Kreditbanken. A experiência permitiu-lhe constatar que as vítimas do sequestro, apesar da situação de risco de vida, tinham desenvolvido um estado psicótico que se manifestava por sentimentos de lealdade para com os sequestradores. Mais tarde, durante o julgamento dos sequestradores, constatou que as vítimas continuavam a manifestar esses sentimentos.

Para os especialistas, os sintomas associados à síndrome surgem sem que as vítimas tenham consciência e resultam de um stress emocional e físico extremo. Assustadas, com medo da violência e de retaliações, as vítimas adoptam estratégias de sobrevivência tentando identificar-se emocionalmente com o sequestrador e conquistar a sua simpatia. A identificação emocional visa conseguir o afastamento emocional da situação de perigo que vivem, mantendo-se, no entanto, alerta para o perigo de modo a tentar escapar ao sequestro se surgir uma oportunidade.

Assim, o desenvolvimento da síndrome resulta de um complexo processo entre o sequestrador e a vítima. Neste processo, as vitimas não conseguem ter uma visão clara da realidade. Se o sequestrador manifestar atitudes de simpatia pode gerar comportamentos de identificação afectiva nas vítimas que contrastam com os sentimentos de ódio que, em simultâneo, sentem pelo sequestrador. Por outras palavras “quanto mais me bates mais gosto de ti”, pois esta síndrome também se desenvolve noutras situações de extrema tensão como são os casos de violência doméstica.

Ao reflectir sobre este estado psicótico ocorreu-me, naturalmente, a situação que se vive hoje em Portugal. Há cerca de dois anos que os portugueses estão sequestrados por uma política de asfixia económica, financeira e social, cujas medidas os colocaram numa situação de tensão extrema. De facto, os portugueses estão reféns, incapazes de ter uma visão clara do impacto nas suas vidas das medidas dos PECs e da Troika. Com medo das violentas medidas é natural que a sua única preocupação seja a luta pela sobrevivência. Nessa luta, se os sequestradores lhes falarem com simpatia “vendendo a ilusão” podem gerar-se nos portugueses comportamentos de identificação afectiva e de lealdade para com os responsáveis pelo sequestro político.

Este comportamento psicótico pode ser decisivo nas eleições do próximo dia 5 de Junho. Perante a gravidade da situação, os portugueses sentem-se encurralados, vítimas do desemprego galopante, do aumento brutal de impostos e do desmoronamento do estado social. Neste contexto, será que os portugueses vão manifestar, de novo, lealdade para com os sequestradores? Ou, pelo contrário, ainda não perderam a esperança num futuro melhor e vão procurar a liberdade?

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