A metáfora da educação

É frequente ouvirmos dizer que “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Esta frase, rica de significados, é utilizada para fazer as mais variadas comparações metafóricas. A sua utilização generalizada tem a ver com o facto de as metáforas terem o condão de nos ajudarem a ver com clareza problemas que, até então, não tínhamos percepcionado. Nas palavras de Rubem Alves “metáfora é quando, olhando para uma coisa, vemos outra”.

Olhando para a saúde, imagine que quando surgiu a epidemia de gripe A, perante a falta de eficácia dos medicamentos, se tinha decidido melhorar os medicamentos existentes na convicção de que essa era a melhor solução. Nesse contexto, os decisores optaram por investir na utilização massiva de novas tecnologias na produção e administração dos medicamentos e na avaliação do desempenho dos trabalhadores da indústria farmacêutica, mantendo inalterada a composição química dos medicamentos. Felizmente, a solução adoptada foi outra. Para fazer face ao vírus da gripe A os decisores optaram por investir fortemente na descoberta de medicamentos para curar a nova doença.

Partindo do que se passa na saúde, façamos a comparação com o que se passa na educação. Perante o diagnóstico de que o sistema educativo enfrenta novos desafios, o que acontece? Em vez dos decisores se preocuparem em estudar os desafios do sistema educativo para descobrir novos caminhos para a educação, a opção tem sido, invariavelmente, investir fortemente na melhoria do actual sistema. Parece haver a convicção de que basta melhorar o sistema educativo, ou seja, consertar o que está mal. Nesse sentido, nos últimos anos, os decisores optaram por investir massivamente em novas tecnologias para a educação e na avaliação de desempenho dos professores. Quem não se lembra dos objectivos vanguardistas do Plano Tecnológico da Educação e do Magalhães, assim como do famigerado modelo de avaliação de desempenho dos professores?

O problema é que o sistema educativo tem reagido mal a esta medicação e os problemas alastram a olhos vistos minando a motivação dos professores, a criatividade dos alunos e a esperança das famílias. Decididamente, uma metáfora vale mais do que mil imagens.

Publicado no Diário de Notícias da Madeira em 17 de Julho de 2011.

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