Em conversas com amigos costumo ouvir, com alguma frequência, “o meu filho/a não consegue emprego pelo que está a tirar o mestrado”. Sempre que ouço este desabafo ocorre-me a mesma dúvida: será que com o mestrado vai arranjar emprego com mais facilidade?
Para começar, convém lembrar alguns números que dão uma ideia clara da revolução em curso no mercado de emprego. Por um lado, o desemprego está a crescer tendo atingido os 12,4%, no 1º trimestre de 2011. Por outro lado, o número de empregos está a decrescer tendo-se registado uma redução de 139800 empregos, de 2003 a 2011. Acresce que, neste cenário de elevada redução de emprego, o nº de diplomados no ensino superior tem vindo a subir significativamente tendo registado um aumento de mais de 107% em 10 anos.
Neste contexto, a questão central que se coloca aos jovens licenciados é: o que devo fazer para melhorar a minha empregabilidade? Obviamente, as hipóteses são múltiplas. No entanto, antes de qualquer decisão é fundamental que cada um faça uma reflexão sobre o que pretende em termos de carreira: o que sou, o que quero vir a ser em termos pessoais e profissionais e o que devo fazer para o conseguir. Concluída a reflexão, para uns, a solução poderá passar por um mestrado mas, para outros, a solução será seguramente bem diferente.
Se a entrada na carreira exige a posse de mestrado então a decisão de o tirar está, indiscutivelmente, correcta. O mesmo se passa se a progressão na carreira exige a posse de mestrado. Contudo, este tipo de carreiras constitui um mercado de emprego de reduzida dimensão. Pelo contrário, o mercado de emprego de licenciados é bastante maior. A este propósito importa referir que o aumento exponencial de licenciados e de mestrados pós- Bolonha supera largamente a procura do mercado português. Mesmo que se atenue a crise actual, o mercado de emprego de licenciados continuará altamente competitivo pois todos os anos saem das universidades milhares de licenciados enquanto que a taxa de criação de empregos para licenciados tende a continuar reduzida. Em épocas de crise, a taxa pode mesmo ser nula ou negativa.
Como resolver esta inequação? Uma coisa é certa: ter um diploma do ensino superior não dá qualquer garantia de emprego. Então, qual é a solução para obter emprego? Esta é, provavelmente, a pergunta de um milhão de euros. Mas, sinceramente, não creio que haja a “resposta certa”. Cada caso é um caso.
Vejamos o que se passa no recrutamento de licenciados. Quando uma organização decide recrutar um licenciado o que está a fazer, na verdade, é contratar as suas competências para realizar determinado trabalho. Por exemplo, quando na imprensa aparece um anúncio de recrutamento em que o principal critério de selecção é a licenciatura em arquitectura estamos perante um recrutamento onde os licenciados são tratados como uma commodity. Por outras palavras, como é muito elevado o número de arquitectos disponíveis no mercado a remuneração oferecida pelo trabalho é muito baixa, um fenómeno bem conhecido da “geração à rasca”.
Contudo, nem sempre os licenciados são tratados como uma commodity. Vejamos duas situações bem conhecidas. A primeira ocorre quando as organizações pretendem recrutar os melhores alunos das melhores universidades. Como a procura é superior à oferta dessas universidades, as organizações tendem a oferecer remunerações aliciantes para atrair os melhores. A segunda ocorre quando as organizações pretendem recrutar licenciados privilegiando determinadas competências comportamentais. Nestes processos de recrutamento os critérios decisivos para obter o emprego são a atitude positiva, a auto-motivação, a auto-confiança, a ética no trabalho, a capacidade de comunicação, a capacidade de resolução de problemas, a capacidade de trabalho de equipa, a criatividade, a flexibilidade e adaptabilidade à mudança e a resistência ao stress.
Em síntese, no actual mercado de emprego, o grande desafio para os licenciados é: ser ou não ser uma commodity, eis a questão. O desafio é demasiado complexo para pretender prescrever quaisquer receitas milagrosas. Pretendo, apenas, chamar a atenção para a crescente valorização pelas organizações das competências comportamentais, as quais podem fazer toda a diferença e melhorar, de facto, a empregabilidade dos licenciados.
1 Commodity é um termo de língua inglesa que significa mercadoria e é utilizado nas transacções comerciais de produtos de origem primária nas bolsas de mercadorias (Wikipedia).
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