Antes de mais, confesso, não sei. Ao contrário daqueles que têm o dom de tudo saber e de nunca terem dúvidas, confesso que ao escrever me ocorrem inúmeras dúvidas e questões. Muitas vezes, a única resposta que tenho, como acontece com os maus alunos, é um rotundo não sei. Para mim, escrever é um exercício de aprendizagem. O importante não é confirmar as verdades absolutas do statu quo, mas questionar se não haverá outros caminhos, outras soluções, outras ideias para fazer face aos actuais desafios.
No seu comentário televisivo do passado domingo, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que o mundo enfrenta novos desafios e que os líderes europeus, pura e simplesmente, não sabem o que fazer. A crise financeira está há três anos na ordem do dia e a resposta é “não sei”. O desemprego cresce diariamente e a resposta é “não sei”. A pobreza e a fome alastram e a resposta é “não sei”.
Provavelmente, os que acreditam que os líderes deveriam ter as respostas certas para os grandes problemas sociais estarão desiludidos com as políticas seguidas. Acontece, no entanto, que a globalização e as tecnologias tornaram o mundo muito mais complexo e vertiginoso. O tempo em que os líderes conseguiam prever e antecipar a mudança acabou. Hoje, a única certeza é a incerteza de uma mudança caótica. Tudo parece desmentir as previsões dos líderes. Anunciam a criação de postos de trabalho, aumenta o desemprego. Anunciam a sustentabilidade das pensões, aumenta a idade de reforma. Anunciam o PEC1 e o PEC2, aumenta o défice. Anunciam o fim da crise, entra o FMI.
Entretanto, os problemas continuam sem solução e alastram-se por contágio. É altura de reconhecer, com humildade, não sei. Para enfrentar os novos desafios não vale a pena insistir nas velhas soluções. É tempo de dizer “não sei” e de mobilizar os cidadãos para se empenharem, colectivamente, na construção de novos caminhos. Como dizia Chico Xavier “embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora a fazer um novo fim”.
“Não estou à espera que concordem com tudo o que eu diga. Mas espero que quando discordarem, discordem zangados. Que fiquem tão lixados, que façam alguma coisa”, Tom Peters.
Publicado no Diário de Notícias da Madeira em 17 de Dezembro de 2010.
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