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Eles não sabem que a aprendizagem é uma constante da vida

22 Janeiro, 2008

Eles não sabem, nem aprendem
que a aprendizagem comanda a vida.
Que sempre que um homem aprende
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

Sim, é um plágio. Bastou trocar a palavra sonho por aprendizagem e o verbo sonhar por aprender para me tornar um poeta da era da informação, onde tudo o que está na Internet pode ser adaptado livremente.

Espero que António Gedeão não me leve a mal pois a intenção é utilizar a Pedra Filosofal, que marcou a geração da Revolução de Abril, para abordar a aprendizagem ao longo da vida (ALV) no âmbito do QREN, mais concretamente do Programa Operacional do Potencial Humano (POPH).

A ALV foi consagrada pela Comissão Europeia, em 2000, no Memorando sobre a Aprendizagem ao Longo da Vida. Na altura, o conceito de ALV, que abrange toda e qualquer actividade de aprendizagem formal, não-formal e informal, apareceu como uma forma de ultrapassar a tradicional distinção entre a educação e a formação inicial e contínua. Em termos políticos, a aprendizagem ao longo da vida passou a ser um direito social que tem como reverso da moeda o dever de aprender continuamente.

Em Portugal, a aprendizagem ao longo da vida começa também a estar presente nas políticas nacionais como aconteceu no recente Acordo para a Reforma da Formação Profissional, ainda que de forma muito incipiente.

No entanto, para que tudo isto funcione há um pressuposto fundamental: querer aprender. É aí que está o busílis da questão. Se os portugueses não quiserem aprender não há solução. Podemos ter as melhores escolas, os melhores programas e até os melhores professores que os resultados serão sempre decepcionantes.

Por razões profissionais, leio regularmente estudos e publicações sobre a educação e formação publicados a nível nacional e internacional. Nessas leituras, com conclusões para todos os gostos e interesses, emerge sempre a sombra do professor como o elo mais fraco. Se os alunos não aprendem a culpa é do professor.

Sem querer tomar partido, recordo uma frase de Rubem Alves: “A aprendizagem começa com um pedido“. Um pedido do aluno que quer aprender. O professor, como mestre, é o mediador da aprendizagem. É verdade que o professor também deve ser um sedutor como defende Rubem. Sedutor no sentido em que cativa o aluno para fazer o pedido, para querer aprender, para ter gosto pela disciplina.

Contudo, o desafio da aprendizagem ao longo da vida assume, hoje, uma dimensão que está muito para além das escolas, dos programas, dos professores, em suma, da educação e formação formal. As políticas de formação e educação não podem continuar a limitar-se à aprendizagem formal, pois o futuro da aprendizagem é informal e móvel. Na sociedade em rede, as pessoas aprendem cada vez mais de modo informal nas suas actividades pessoais e profissionais. Os estudos de Jay Cross confirmam que a aprendizagem informal tem um impacto de 80% no trabalho, enquanto que a aprendizagem formal só tem 20%. Então, o pedido (querer aprender) tem de surgir, ao longo da vida, sem a intervenção do professor ou de terceiros. Tem de ser uma característica inata, tão natural como o sonho. Não podemos esquecer que a aprendizagem começa com o sonho, que gera o pedido, e que sonhar não se ensina.

Por outro lado, numa altura em que Portugal aposta fortemente no Plano Tecnológico e na Estratégia de Lisboa como alavancas para a criatividade e a inovação, temos de ter bem presente que a aprendizagem informal é, cada vez mais, o verdadeiro motor do desenvolvimento do capital humano português.

Neste contexto, será que o Programa Operacional do Potencial Humano traduz uma estratégia de Aprendizagem ao Longo da Vida? Tudo indica que não. Quando se constata a incoerência do Programa com Eixos para a Qualificação Inicial, para a Gestão e Aperfeiçoamento Profissional e para a Adaptabilidade e Aprendizagem ao Longo da Vida, percebe-se facilmente que eles não sabem, nem sonham.

Enfim, eles não sabem que a aprendizagem é uma constante da vida.

Publicado na edição online do Diário de Notícias da Madeira a 17 de Janeiro de 2008