No Acordo para a Reforma da Formação Profissional as partes decidiram “reformar, até Junho de 2007, o actual Sistema Nacional de Certificação Profissional, criando:
a) O Sistema Nacional de Qualificações, com o objectivo fundamental de assegurar a relevância dos referenciais de formação e reconhecimento, face às necessidades das empresas e da economia, assegurando igualmente a rápida e permanente actualização do Catálogo e a sua difusão pelos promotores da formação;
b) O Sistema de Regulação de Acesso a Profissões, com o objectivo de produzir normas de acesso e exercício das profissões que, por autorização expressa da Assembleia da República e nos termos constitucionalmente previstos, sejam de acesso regulamentado, obrigando à posse de demonstrativo de capacidade profissional.
A este propósito é oportuno ler “Urubus e Sabiás, o fim dos vestibulares”, de Rubem Alves, que conclui “em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá”:
“Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam… Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros.Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência.
Tudo ia muito bem até que a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás… Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.
– Onde estão os documentos dos seus concursos?
E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente…
– Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.
E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás…
Moral da história: em terra em que urubu tem título, sabiá precisa de diploma para cantar.”
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